Contrários...

segunda-feira, 12 de outubro de 2009
 
         Outra experiência que eu considerava dolorosa quando ia para Chessington, onde meu pai morava, era a hora de ir dormir. Meu pai me colocava na cama e lia, com sua voz precisa e lindamente modulada, um poema ou alguma história para mim, e eu ficava ali, observando-o enquanto ele se inclinava em direção à luminária da cabeceira da minha cama, estudando seu perfil, amando-o muito, e pensando que como o retorno à casa da minha mãe estava próximo, ele estava ali, dando o melhor de si. Eu ficava extremamente deprimida e tentava de todas as maneiras não chorar, pois sabia que as minhas lágrimas lhe causariam dor e remorso, então eu fingia cair no sono enquanto ele estava lendo, assim eu não teria que retribuir seu beijo de boa noite ou o seu abraço , pois o seu toque suave poderia me desarmar completamente. 
         Um dia, às vésperas do meu retorno a Beckenham, eu me encontrava na pequena sala de jantar, tentando inutilmente me recompor da imensa tristeza que eu sentia, e lá, sobre o aparador, havia uma tigela de vidro, que devido a refração da luz, causada pelo sol entrava pela janela, emanava um colorido similar ao do arco-íris.
         Pensei, então, que seu eu olhasse fixamente para aquela tigela por tempo suficiente, com vontade suficiente, eu haveria de encontrar algo em seus ângulos precisos e agudos que me impedisse de chorar. Eu olhei longamente para o objeto, tentando fazer com que a causa da minha angústia viesse do cristal e não da minha cabeça ou do meu coração.
Julie Andrews - Home: A Memoir of My early Years - Pag 45.

~**~

E um feliz dia das Crianças! Que vocês se permitam serem eternamente jovens.

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