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A moça do sapatinho de cristal.

sábado, 6 de fevereiro de 2010
Quando cheguei em casa e finalmente pude pendurar a fotografia que ganhei de presente de Natal, e que hoje finalmente emoldurei, tinha como intuito o de somente dividir a alegria de poder olhar livremente para a figura da Cinderella, personificada em Julie Andrews, que na época estava com apenas vinte e dois anos, na parede do meu quarto. Depois, dando uma olhada em meus arquivos, achei que talvez valesse à pena comentar sobre o assunto, então acomodam-se em seus assentos e vamos lá.


(fonte: julieandrewsforum.com)

Produção original baseada no conto de fadas do mesmo título, "Cinderella" foi a primeira das três versões a serem televisionadas pela emissora CBS, com músicas produzidas por Richard Rodgers e letras e livro escritos por Oscar Hammerstein – a famosa dupla responsável por sucessos como Oklahoma! Carousel, The King and I,  South Pacific, The Sound of Music, entre outros.


(fonte: julieandrewsforum.com)

A história narra a trajetória de uma jovem moça cujo fado parece ser o de eterna servidão à sua madrasta e irmãs postiças, enquanto sonha com a possibilidade de uma vida melhor. É somente com a ajuda de sua fada-madrinha que Cinderella será capaz de transformar seu destino e encontrar o seu Príncipe.

(fonte: julieandrewsforum.com)

De acordo com o próprio Richard Rodgers em sua autobiografia, o que lhe atraiu para o projeto foi a possibilidade de trabalhar com a jovem Julie Andrews, que na época se tornara grande estrela da Broadway, com o musical My Fair Lady.

(fonte: arquivo pessoal)

Enquanto era a CBS quem detinha controle sobre os aspectos técnicos da exibição do especial, Rodgers e Hammerstein detinham os direitos autorais do show, bem como controle quanto à seleção do elenco, direção, cenário e figurino. Em 05 de Setembro de 1956, a emissora anunciou o início da produção, e em 21 de Fevereiro de 1957 começaram os ensaios.

(fonte: arquivo pessoal)

No dia 31 de Março do mesmo ano o especial foi ao ar às oito horas da noite, sendo exibido ao vivo e à cores aos Estados Unidos, Canadá, México, Cuba, Alaska, Hawaii e Porto Rico. Contava com uma equipe composta por Ralph Nelson, responsável pela direção; Jonathan Lucas, responsável pela coreografia; estrelando Julie Andrews, como Cinderella; Howard Lindsay, como o Rei; Dorothy Stickney, como a Rainha; Edith Adams no papel da fada-madrinha; Kaye Ballard e Alice Ghostley - que voltaria a trabalhar com a querida Julie cerca de quinze a vinte anos mais tarde no programa de variedades The Julie Andrews Hour – como as malvadas irmãs postiças Portia e Joy; Ilka Chase, a madrastra; John Cypher, o charmoso príncipe; e Iggie Wolfington.

(fonte: arquivo pessoal)

De acordo com relatos, 60% da população dos EUA – cerca de 107.000.000 de pessoas, para ser mais precisa - colaboraram para que a recepção do especial fosse vista como mais que extraordinária: como o maior índice de audiência daquela época.

(fonte: arquivo pessoal)

Hoje este singelo especial segue um tanto quanto esquecido na memória alheia. Mas não falha como mais uma marca indelével do talento de Richard Rodgers, Oscar Hammerstein e Julie Andrews, deixada para a posterioridade, para aqueles que ainda o tem em suas recordações e que consideram-o como raridade. Felizmente já podemos encontrá-lo disponível em DVD pelo Amazon.com, ou, graças aos avanços tecnológicos, disponível em sites para downloads pela internet.

(Aliás, foi assim que tive o prazer de assistir a esta jóia rara. E adoro especialmente In My Own Little Corner.)  

(fonte: julieandrewsforum.com)

Seguem abaixo alguns trechos que eu traduzi, retirados da autobiografia da Julie Andrews, “Home: A Memoir of my Early Years”, relacionados à Cinderella.

(fonte: julieandrewsforum.com)

"Em Março eu passei por uma experiência completamente diferente. Fui convidada a interpretar a protagonista de uma exibição de Cinderella,  por Rodgers e Hammerstein, ao vivo na emissora CBS, e me senti extremamente afortunada com isto, pois esta seria uma produção musical original criada para mim, e coincidiu exatamente com as duas semanas de férias que iria tirar de My Fair Lady. Um elenco maravilhoso fora reunido - o lendário casal Howard Lindsay e Dorothy Stickney iriam interpretar o Rei e a Rainha, respectivamente; Edie Adams, a fada-madrinha; as hilariantes Kaye Ballard e Alice Ghostley assumiriam os papéis das irmãs postiças; Ilka Chase seria a madrasta; e o novato John Cypher interpretaria o lindíssimo Príncipe.
O nosso diretor, Ralph Nelson, tinha uma reputação a se prezar, mas o seu conceito para Cinderella era  pouco ortodoxo. Ele esperava fazer com que a história parecesse o mais real possível, o que parecia ser improvável, visto que tratava-se de um conto de fadas que precisaria do auxílio de uma gama de efeitos especiais – desde a transformação da abóbora em carruagem à transformação de pobre garota em dama da sociedade, e assim por diante. Por estarmos indo ao ar ao vivo, talvez seus recursos estivessem sido limitados, dificultando tais efeitos de fotografia.
Quanto as canções, estas eram bem bonitas e amei 'In My Own Little Corner', assim como uma outra  chamada 'Impossible', que cantei junto com Edie Adams." 

(fonte: julieandrewsforum.com)


"Um certo dia eu estava assoviando nos bastidores do set de filmagem enquanto aguardava (quando fico nervosa eu costumo assoviar. Sou boa nisso e alguns diretores já utilizaram desse recurso uma vez ou outra... Eu assoviei em Mary Poppins, em My Fair Lady e Camelot), e por algum motivo o qual eu não me recordo, assoviei algumas notas de uma canção chamada “The Last Time I Saw Paris,” quando uma voz por trás de mim disse 'Sabe, eu estava sendo sincero quando escrevi esta música.' Ao me virar, fiquei cara-a-cara com Oscar Hammerstein. 'Puxa vida, Sr. Hammerstein,' eu balbuciei, 'Fico sem graça em admitir que eu não sabia que esta canção era sua.”
'Eu estava extremamente arrasado durante a época da guerra, em que Paris foi tomada pela Alemanha, e lembrando a cidade à maneira que eu a conhecia, não pude evitar em escrever a letra dessa canção', ele recordou.
Hoje me dou conta que naquela época eu andava com alguns gigantes, dentre eles Alan, Fritz, Moss, Rodgers e Hammerstein, Joe Papp... E hoje me pergunto o motivo pelo qual nunca me ocorreu em fazer-lhes mil perguntas que hoje surgem a cada vez que me lembro de algum deles.
Suponho, então, que na época eu estava muito ocupada tentando descobrir quem eu era."

(fonte: julieandrewsforum.com)

"Fazer um programa de televisão ao vivo era assustador. Apesar de estarmos atuando em um musical, a situação era diferente de trabalhar em teatro. Haviam câmeras que faziam uma espécie de dança em slowmotion ao nosso redor constantemente (e naquela época elas eram muito maiores); com pessoas tirando os cabos do meio do caminho, enquanto nós tentávamos ignorar o caos de uma equipe em ação e ao mesmo tempo tentávamos convencer aos telespectadores que não havia mais ninguém ali além de nós, os atores. Nesse aspecto Joe Papp foi imprescindível, pois ele coordenava o tráfego das câmeras, indicava quais seriam as deixas dos atores, em termos de onde deveríamos estar antes de entrarmos em cena, e qual câmera seria utilizada.
A parte mais difícil para mim foi a cena onde Cinderella aparece vestida em verdadeiros trapos, e no instante seguinte é vista usando um lindo vestido de festa. Visto que Ralph Nelson não poderia usar efeitos visuais, esta façanha foi alcançada através de uma câmera que começava filmando os meus pés, revelando os sapatinhos de cristal. Em seguida, enquanto uma pessoa tentava rapidamente colocar um novo aplique e prender a coroa na minha cabeça, e depois colocar uma capa nos meus ombros, a câmera subia lentamente, de maneira que quando a câmera chegasse ao meu rosto, a transformação estaria completa.
Era meio arriscado, especialmente ao vivo, mas haviam várias pessoas trabalhando comigo simultaneamente, e eu tentava ficar parada o maior tempo possível, para que pudesse acomodar a todos e, ao mesmo tempo, fazer com que isto funcionasse diante das câmeras, aparentando ser algo simples. Um dos ápices do programa é a cena onde Edie e eu fingíamos fazer o percurso até chegar à festa, cantando 'Impossible'.  Na verdade, a carruagem estava pela metade para que as câmeras pudessem caber ali dentro. Além disso, havia uma maquineta nos balançava para frente e para trás enquanto nós atuávamos."


(fonte: julieandrewsforum.com)

"O que colaborava para que algumas mudanças de vestimentas fossem realizadas eram os comerciais, mas uma vez que nós retornássemos, a situação voltava a ficar bastante caótica.
Dois dias antes de irmos ao ar, nós gravamos um álbum com vinte e oito músicas orquestradas para a Columbia Records, que estava programado para ser lançado no dia seguinte ao especial. Eu não tinha absolutamente nenhuma idéia de como esses álbuns podiam ser prensados e feitos tão rapidamente.
Durante a noite em que o especial foi televisionado, logo antes de entrarmos ao vivo, um “bom amigo” me disse: 'Você já se deu conta de que provavelmente  o número de pessoas que assistirão a esse programa em uma só noite será muito maior do que se você passasse quinze anos interpretando My Fair Lady nos palcos?' Não acho que esse era bem o tipo de incentivo que eu precisava naquele instante.
Mais tarde foi me contaram que de fato o número de telespectadores havia sido o maior da história da televisão, até então.
A noite progrediu consideravelmente tranqüila e nós fizemos o melhor que pudemos, mas eu me sentia um pouco insegura: tudo fora muito corrido e sem o refinamento que poderíamos ter tido se tivessimos filmado e editado para uma exibição posterior. Foi um trabalho árduo, mas que me permitiu adquirir grande conhecimento, e que me levou anos pra compreender a grandiosidade do que nós havíamos conseguido fazer naquela noite."


E por último, a foto que inspirou o texto de hoje. 

Suplício de uma saudade...

domingo, 11 de outubro de 2009

         No início de 1940 minha mãe se inscreveu na ENSA, ou Entertainments National Service Association (Associação Nacional de Serviços de Entretenimento) [...] Esta era uma organização que havia sido criada sob o intuito de proporcionar alguma espécie de lazer e entretenimento durante a guerra, às forças armadas britânicas, servindo de estímulo a eles [...] Um dia específico, antes de ela ir embora, ficou marcado em minha memória... Mamãe decidiu me levar para passear - o que não era muito comum, considerando que ela nunca tinha tempo para fazer isso comigo - e de mãos dadas demos uma volta pela vila, passando pelas vitrines das lojas. Em uma dessas vitrines, eu vi um vestidinho cor-de-rosa, que era bem fofo porém um tanto exagerado, mas que eu considerei ser o vestido mais bonito que tinha visto até então. Um ou dois dias depois, ao chegar de um outro passeio, percebi que não havia ninguém em casa, e que portanto, minha mãe havia partido sem ter se despedido. Embora ela já houvesse viajado outras vezes, eu pressentia, de uma maneira bem peculiar que só as crianças conseguem sentir, que ela não iria retornar. Ficando extremamente abatida, corri às pressas em direção ao meu quarto, onde encontrei o vestido cor-de-rosa exposto em cima da minha cama, e com ele, um recado cujo conteúdo não tinha nada em especial, apenas a mensagem "Com amor, da Mamãe" ou algo do gênero. Naquele exato instante eu senti meu coração se encher, a ponto de estourar, e então eu chorei, pois eu ansiava por ela, a amava, sentia a sua falta, e sabia que ela havia pensado em mim enquanto partia.
 Julie Andrews - Home: A Memoir of My Early Years - Pag 23 e 24
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Não há melhor lugar que o nosso lar.

sábado, 10 de outubro de 2009
Me contaram que a primeira palavra compreensível que eu falei quando criança foi "Lar".
No dia em que isso aconteceu, meu pai estava dirigindo um Austin 7, que era um carro de segunda mão, e minha mãe estava ao seu lado no banco de passageiro, me segurando em seu colo. A medida que nós nos aproximávamos de nossa modesta casa, Papai tivera que frear o carro para estacionar no pequeno espaço de concreto próximo ao portão, e aparentemente eu quietamente, timidamente disse a palavra: "Lar."
Minha mãe relatou que havia uma ligeira inflexão na minha voz, que não soava exatamente como um questionamento, mas como aquela sensação peculiar de ter uma palavra na ponta da língua, talvez com a deliciosa descoberta da conexão entre o nome e o seu significado.
Para ter certeza que eles haviam me escutado corretamente, meu pai decidiu dar a volta no quarteirão mais uma vez, e ao retornarmos parece-me que eu repeti a palavra.
Minha mãe provavelmente deve ter pronunciado essa palavra mais de uma vez ao chegarmos em casa, e eu me questiono se teria sido com satisfação, alívio, ou se esta seria sua tentativa de estabelecer em mim algum sentimento de conforto e segurança. 
De todo modo, esta palavra se tornou de enorme importância para mim: Lar.
Julie Andrews - Home: A Memoir of my Early Years. Pag 01.

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Bem vindos ao meu novo lar.