A psique do ser humano é algo inteiramente interessante.
Quando entrei na adolescência, saí direto das obsessões por desenhos animados (passado obscuro, por favor, ignorem) para então começar a me projetar nos meus inúmeros espelhos. De alguma forma isso deve ter sido peculiar: enquanto meninas desfrutavam as típicas fases adolescentes de cair de amores por “boybands” e atores jovens bonitinhos, eu começava a admirar fervorosamente uma mulher.
Courteney Cox foi somente a primeira delas. Aos catorze surgiu a irreverência da cantora Madonna. Aos dezesseis, surgiu a "tour-de-force" de Meryl Streep. Aos dezenove, o encanto charme e graciosidade de Julie Andrews. Sem contar as referências primárias – avó, mãe e irmã. Em retrospecto, lembrando de que venho de uma família bem grande e predominantemente feminina (só para citar tenho seis tias, e de 38 primos pelo menos a metade é composta por mulheres), acho que seria inevitável ser diferente.
Mas projetar-se não significa necessariamente querer copiar alguém. Pelo menos não para que sejamos de total semelhança. Tampouco significa falta de personalidade ou de identidade. Acredito que a projeção é como tomar referência de certas atitudes, pensamentos, comportamentos. É criar uma espécie de parâmetro para que se possa distinguir o que é bom e o que é ruim, ter algo ou alguém como exemplo, e partindo daí fortalecer a essência.
Somos mil e somos únicas. Obras de arte inacabadas. Com toques de gerações que passaram por nossas vidas, deixando marcas indeléveis, nos transformando, inspirando na formação do caráter. Se hoje minha essência foi de alguma forma solidificada, isto se deve em parte a elas, senão inteiramente: minhas mais distintas e belas damas.
Dedico o meu amor e maior respeito a vocês. A nós, um maravilhoso dia internacional das mulheres!
Avó (+ 22/12/2008) e Mãe, respectivamente.
Ces't Moi.
E gostaria de deixar registrado que se algum dia eu viesse a ser indicada à categoria de Melhor Atriz no Academy Awards junto à Meryl Streep (e caso vocês se perguntem, não, eu não tenho a menor pretensão em começar a atuar diante das câmeras) e eu ganhasse o prêmio, querem saber o que eu faria?Pegaria Meryl pelas mãos e a levaria ao palco comigo (à força, caso fosse necessário).
Desejam saber o por quê? Porque desde quando a dona Mary Louise Streep, Meryl para os íntimos, resolveu nos deslumbrar com o seu talento, ela se tornou responsável por inspirar no mínimo duas gerações seguintes de atrizes. Hoje Meryl aos seus 60 anos atingiu o que Bette Davis adoraria ter feito não muito após os seus 40 anos de idade. Meryl Streep experimentou alguns anos de quase ostracismo na indústria e quando voltou, revolucionou o papel da mulher e colocou em pauta a questão da idade x qualidade x lucratividade. Então nada seria mais justo do que dividir um momento de glória com a pessoa que representa uma entidade, uma escola.
Aceitaria o prêmio com Meryl Streep ao meu lado, ficaria de joelhos para beijar os seus pés e diria em alto e bom tom: "O meu Oscar é Seu, Meryl Streep!" Porque quando Meryl Streep entrou no ramo – e deixou claro que tinha vindo para ficar – foi como se estivéssemos escutado a voz de Deus dizendo “Haja luz”, e subitamente um clarão tivesse surgido nos céus. Meryl Streep não fica mais velha, fica melhor! E é sempre digna do meu exagero e devoção.